Kristen Stewart: ‘Eu amo a Marylou. Ela pula para fora da página e te esbofeteia na cara’.
‘On the Road’ de Kristen Stewart e Kirsten Dunst e a maneira como elas trouxeram as “heroínas silenciosas” de Kerouac à luz dos holofotes.
Para muitos, ‘On the Road’ é principalmente
para os meninos. A obsessão de Jack Kerouac com o egoísta e hedonista
vagabundo Neal Cassady domina o livro, com as personagens femininas
relegadas para o banco de trás, objetos descartáveis que flutuam dentro e
fora do conto, na conveniência proto-beat dos rapazes.
Isso é um ponto de vista. Mas, para o diretor Walter Salles, as
personagens femininas do romance, especialmente aquelas com base no
longo sofrimento das esposas de Cassady, são “as heroínas silenciosas”
da peça. Assim, ele lançou duas das maiores e mais procuradas atrizes de
Hollywood – Kristen Stewart e Kirsten Dunst – para interpretá-las.
Stewart é Marylou, versão do livro da primeira
esposa de Cassady, a Luanne Henderson, que se juntou à Cassady e Kerouac
em suas viagens pela estrada em toda a América; Dunst é Camille, também
conhecida como segunda esposa, Carolyn Cassady, que ficou em casa com
os bebês, em San Francisco. Cassady esvoaçava entre essas mulheres,
dormia com Carolyn enquanto casado com Luanne, mantendo Luanne como uma
amante depois que ele se divorciou dela por Carolyn. Kerouac fez pouco
esforço para dar a suas amigas mulheres profundidade e dignidade nas
páginas, o filme tenta remediar esse lapso.
A proeminência de Stewart na promoção do
filme reflete ambas intenções da estrela de alta nível de Crepúsculo.
Aos 22 anos, ela também passa a ser uma fã surpreendentemente apaixonada
do livro.
“On the Road estava na lista de leitura no meu primeiro ano e graças a Deus eu o escolhi”, ela lembra. “Parecia
muito mais divertido do que qualquer um dos outros. Eu sabia que era
sobre contracultura, e quando você está com 14 anos e colocando
ridículos sinais de anarquia em sua mochila é apenas nisso que você está
atraído.”
“Você sabe, eu sou de Valley. Eu venho de uma família muito
confortável, muito feliz, mas do tipo que você pode se tornar preguiçoso
e complacente. Então, quando eu li ‘On the Road’, pensei:.. Tenho de
encontrar pessoas como estas, que vão empurrar-me, que não se
comprometem em seus desejos, mesmo se eles sejam diferentes da regra.
Realmente me advertiu de como eu queria viver.”
Neste inconformismo, ela está pensando em sua personagem, tanto quanto nos homens. “Eu
amo Marylou. No livro, ela é divertida, ela é sexy, ela é viva, ela é
progressiva para seu tempo. Ela pula para fora da página e te esbofeteia
na cara.”
Ao mesmo tempo, ela admite que “não é um livro sobre as meninas, elas estão no outro lado da coisa”,
e que ela teve de afastar a história para elaborar a personagem. Ela
conheceu a filha da falecida Luanne Henderson, Anne Marie Santos, que “me ajudou a destravar sua mãe, conectar-me à ela como uma pessoa real”,
e ouviu horas de entrevistas gravadas com Luanne, feitas pelo biógrafo
de Kerouac, Gerald Nicosia, que se provaram ser reveladoras.
“De repente, Luanne tinha uma voz, e todos caíram
completamente apaixonados por ela. Ao contrário dos meninos, ela não
estava se rebelando contra nada, ela estava apenas sendo ela mesma,
estando com as pessoas que amava. Para mim, conhecer essa mulher se
tornou muito mais fácil evitar a caricatura do objeto sexual. Nunca
Luanne se fez de mercadoria. E ela é realmente esta incrível ligação
entre os dois rapazes; está é uma grande declaração a se fazer, mas esta
aventura não poderia ter acontecido sem ela.”
Dunst, 30, lembra de uma atitude diferente para o livro quando leu pela primeira vez. “Eu
estava mais atraída por escritoras quando eu era mais jovem – Sylvia
Plath, Jane Austen, eu amei as poesias de Edna St. Vincent Millay. Eu só
li ‘On the Road’ porque existia um cara por quem eu tinha uma queda e
este era seu livro favorito. Então eu meio que o li para ser legal. Mas
eu era muito jovem, 16 anos, e realmente não entendia.”
Dito isso, ela entrou para o filme, porque
“é um dos grandes romances da história americana, então é claro que você
quer ser uma parte disso. Além disso, ela leu e sentiu uma forte
conexão com aprópria Carolyn Cassady, no seu relato autobiográfico
daquela época, intitulado ‘Off the Road’, a partir de linhas que
realmente fizeram o seu caminho para o roteiro do filme.
“Carolyn ainda está viva, morando em Londres. Eu perdi a
oportunidade de conhecê-la, mas seu livro foi no que eu baseei minhas
escolhas adiante. Durante esse período, ela era uma mulher
renascentista. Ela tinhaum grau de mestre em teatro, e era graciosa,
mulher talentosa em seu próprio direito, mas que trabalhou como
enfermeira para cuidar de seus filhos.”
“Ela poderia ter feito muito se
tivesse seguido por outro caminho. Mas ela conheceu Neal e se apaixonou
por ele, era tão simples isso. Ele era tão carismático e bonito, e ela
foi atraída para ele como toda a gente era, como uma mariposa para uma
chama, não importando o quanto ele fosse machucá-la. Acho que foi
incrível a maneira como ela viveu sozinha, levantando as crianças por
conta própria, mas ainda era generosa no amor que ela tinha por ambos,
Neal e Jack.”
As duas atrizes tiveram experiências muito
diferentes ao fazer o filme, de acordo com suas personagens. Como a
isolada Camille, que nunca chegou a vagabundear no ‘Hudson Hornet’ (o carro em que as viagens foram feitas),
Dunst não se encontrou com seus colegas de elenco até o final das
filmagens, em contraste, Stewart estava imersa no acampamento que Salles
criou em Montreal como uma base de investigação para seu elenco, e a
intimidade que ela desenvolveu com Garrett Hedlund e Sam Riley é
evidente na tela em ‘On the Road’, nas cenas de dança envolvente com
Hedlund, e cenas de amor que podem surpreender os fãs de Crepúsculo.
“O acampamento foi muito mais do que só sobre a pesquisa”, diz ela.
“Tivemos de conhecer um ao outro muito bem. Garrett, Sam e eu
precisávamos para nos sentirmos seguros e completamente dispostos a
perder o controle um com o outro. E é difícil fazer isso por mim, porque
eu sou o oposto da minha personagem. Eu geralmente sou muito
auto-consciente, mas eu não me importei quando eu estava com esses
caras. Eu vivi mais nessas quatro semanas do que eu costumo fazer. Essa
experiência foi inigualável, para mim.”
Apesar de Kerouacter falhado em fazer a justiça as mulheres, Stewart e
Dunst sentem que sua célebre obra tem algo a dizer para o público
moderno. “É uma história inspiradora que abre a sua mente para outras formas de viver a sua vida, e que é atemporal”, diz Dunst.
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