CAPÍTULO 7 – Pretty Little Liars
Dean e eu voltamos para casa. Eu não conseguia encará-lo; olhava a paisagem pelo vidro do carro. A noite se fazia dia lentamente. A luz se levantava no horizonte, expulsando toda a escuridão. Dizem que toda a escuridão se desfaz ao mínimo sinal de luz; mas quando não há luz alguma, o escuro é regente, comanda e preenche toda vista, domina todo o espaço. E eu
estava vivendo no escuro.
Mais do que me alimentar de um ser humano, eu o tinha matado. Era tão errado, mas garantia tanta força. Nada deixa um imortal mais forte do que ingerir humanos, seja sangue, seja carne.
No escuro podemos ser quem realmente somos; podemos fazer o que quisermos, podemos estar do jeito que sempre desejamos. Mas, quando a luz vem, ela nos cega e nos puni; faz- nos agir como devemos agir, afinal, todos estarão vendo. Mas, mais do que isso, luz nos trás visão, nos trás força, nos dá o que precisamos para viver. Não nascemos para viver no escuro, precisamos da luz.
- Você está bem? – perguntou Dean, me resgatando dos meus pensamentos.
- Não. Mas eu ficarei bem, obrigado. – respondi.
Liguei o rádio em um volume agradável e deixei que as músicas invadissem minha mente até chegarmos em casa.
Dean estacionou na garagem e desligou o carro. Olhou para mim e colocou a mão dele na minha nuca, virando minha cabeça na direção do rosto dele.
- Eu sempre estarei ao seu lado. Não importa o que você faça ou o que te aconteça. – ele disse, e depois me abraçou. Eu agradeci com um sorriso.
Saímos do carro e subimos para nosso quarto. Cada um deitou na sua respectiva cama, depois de fechar as janelas e cortinas. Eu não consegui dormir muito bem, mas cochilei por alguns minutos. Quando eu acordei, Dean já não estava no quarto. Eu senti um cheiro de carne bovina vinda da cozinha; mas, é claro, eu não estava com fome. Comecei a me perguntar por quanto tempo aquele ser humano me nutriria.
Dean e Jensen estavam almoçando silenciosamente. Jensen me olhou com olhos duros e severos. Dean, por outro lado, se quer levantou o olhar em minha direção. Ele havia contado...
- Como você... – começou Jensen.
- Não precisa me punir ou me julgar. Deus já está fazendo isso. Minha cabeça já está cheia de pensamentos sobre a família dele, sobre a vida que ele poderia ter vivido, sobre como ele poderia ter se arrependido. Além disso, também há a punição divina, que eu sei que vai chegar em breve. Então, por favor... – eu disse calma e inexpressivamente.
- Devemos ser fortes, Max. Animais não são julgados, vão diretamente para o céu, por isso nós os comemos à vontade. Mas seres humanos e imortais são analisados a cada segundo. Não importa se eles crêem ou não; isso não muda o fato de que Deus está fazendo justiça a cada instante... – disse Jensen.
- E se eu for a justiça que Deus mandou? – perguntei subitamente.
- Se você realmente for a justiça, então não haverá culpa em seu coração. Até mesmo nossa marcha contra os Volturi será algo punível; só vamos nos arriscar porque é necessário, porque acreditamos ser a coisa certa a se fazer. – explicou Jensen.
- E matar aquele garoto foi a coisa certa... – eu retruquei.
- Você tem um coração bom, Max. E a justiça dos que tem bondade é mais marcante. A morte é algo tão rápido, tão irreversível. Melhor teria sido deixar o garoto aleijado, ou com cicatrizes... – Dean engasgou com a comida antes que Jensen pudesse terminar a frase. Mas ele estava certo. – Olho por olho, dente por dente. Não tire dos outros o que não foi tirado de você. Nem todos merecem morrem...
Aquela última frase implantou uma ideia maravilhosa na minha mente. Talvez, eu só precisasse levar uma pequena luz para minha escuridão. Talvez, matar quem merecesse morrer... Há tantas pessoas que negam o perdão, negam a bondade, negam a vida. Talvez o mundo fosse um lugar melhor sem eles. Como os Volturi, por exemplo. Era a coisa certa a se fazer. Além do mais, me daria forças inimagináveis, que seriam úteis na luta contra os Volturi. Mas, eu precisava me conter. Estava decidido: eu me alimentaria de humanos, mas só os que merecessem morrer e só quando eu sentisse fome.
Demorou uma semana para que eu começasse a sentir fome outra vez. Enquanto isso, eu explorei todo o meu potencial, toda a força que a carne humana me fornecera. E era incrível. Força suprema, velocidade extraordinária, percepções apuradas, transformação mais rápida; poder.
No fim de semana, fomos caçar com os Cullen e os Quileutes. O momento perfeito para eu me alimentar dignamente outra vez. Como prometido, só pessoas “do mal” entrariam no meu cardápio. Mas por onde começar a procurar? Eu não fazia a menor ideia.
Eu caminhava por um parque enquanto pensava no assunto. Duas corredoras passaram por mim. Eu vi aqueles músculos enrijecidos e suculentos se flexionando e contraindo durante a corrida. Bíceps, tríceps, glúteos, tudo irrigado com sangue, tão apetitoso. Elas se direcionaram para a floresta, na qual havia uma trilha que chegaria ao outro lado da cidade, praticamente. Caçar quem merecia morrer já não importava mais. Eu não queria saber da vida que elas poderiam viver nem do que elas poderiam fazer. Eu queria a carne delas.
Eu me transformei ali mesmo e corri atrás de ambas. Eu fui tão rápido que os gritos delas nem ecoaram direito. Mordi seus pescoços, arranquei os músculos dos seus ossos, quebrei juás juntas se comia tudo compulsivamente. Em menos de dez minutos, só havia as roupas delas e sangue molhando a terra. Mais do que matar, eu só me via comendo. Era seleção natural, os mais fortes ou os mais sortudos vivem. Os outros morrem. Eu vesti minha roupa e queimei as roupas dela com um isqueiro, que estava comigo justamente para eliminar os vestígios.
Eu me sentia tão restaurado, tão cheio, tão nutrido. Antes de voltar para casa, limpei meu rosto e meu corpo com álcool e água sanitária, para tirar o cheiro de sangue. Passei pela floresta, agarrei uma gazela e mordi um pedaço do seu lombo. Ela saiu correndo, mas logo iria se curar da ferida. Foi apenas para deixar o cheiro dela impregnado em mim e mentir que eu havia me alimentado daquele animal.
Voltei para a casa dos Volturi, onde todos também estavam chegando.
- Por onde andou, Max? Não te vi por perto. – perguntou Edward.
- Eu persegui duas gazelas que fugiram pela outra direção. – respondi.
- E estavam boas? – perguntou ele, mais por educação do que por curiosidade.
- Deliciosas. – respondi.
Eu sabia que aquilo não era certo, mas havia algo dentro de mim que não se importava.
Aquelas garotas eram presas e eu um predador, simples assim. Eu só precisava mentir, e continuar mentindo.
Somos todos mentirosos, alguns mais convincentes, como era o meu caso, mas todos mentem.
Mentimos sobre nossos gostos dependendo da situação, mentimos sobre nossos hábitos,
sobre nossos segredos. Mais do que ocultar a verdade, nós mentimos, geralmente para sobreviver ou não ser punido. Somos todos lindos e pequenos mentirosos. E, no momento, a mentira iria garantir meus banquetes por tempo indeterminado.
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