Ele já tinha avisado: quer deixar para trás os dentes de vampiro da saga ‘Crepúsculo’ e mostrar a todos que consegue ser um actor para lá do ídolo de adolescentes. A prova do esforço de Robert Pattinson chega esta quinta-feira aos cinemas, com pompa e circunstância: o drama ‘Bel Ami’, que adapta a obra literária de Guy de Maupassant.
Num estilo de análise à burguesia parisiense do século XIX, focando-se no que se esconde por detrás das máscaras, o filme revela grande reverência pelo romance de origem e faz de tudo para homenagear o património literário que é também uma ácida crítica social.
Centrado na figura de Georges Duroy, um sem-abrigo que, a pouco e pouco, sobe todos os degraus da moldura social, recorrendo a todos os métodos – até os mais perversos… - para se tornar na figura mais mediática do seu meio, o filme aposta no tom manipulatório de esquemas e subterfúgios para se ser um líder.
À parte de alguma hesitação dramática, Robert Pattinson agarra o desafio com unhas e dentes, exibindo o ar gélido de um homem que só não quer voltar a ser um ‘Zé ninguém’.
O papel de sacana sem lei ajusta-se ao actor como uma luva (de seda…) e até a sua expressividade oscilante parece jogar a seu favor, atendendo aos contornos da personagem à luta com a ascensão.
De jornalista medíocre a esposo manipulador vai um curto passo e ‘Bel Ami’ é também um filme de mulheres. Elas giram em seu torno, representando as várias vertentes do pecado e dos vícios: a interesseira (vivida por uma muito rouca e experiente Uma Thurman), a amada impossível (Christina Ricci numa versão doce) ou a usada, para fins menos nobres (Kristin Scott Thomas bem se esforça, mas o papel não lhe encaixa…).
Apesar de ser um filme em inglês num universo que respira Paris, ‘Bel Ami’ beneficia do cuidado cénico e do respeito pelas linhas do mestre Guy de Maupassant. A produção, europeia de gema, arrisca-se a ser o filme de época mais interessante deste primeiro semestre frio e seco. Tal como o é o seu personagem principal.
Além dos bons desempenhos, a obra vai buscar muita da inteligência na construção dos diálogos de Maupassant. A melhor maneira para descrever a postura de Georges Duroy é descrita pela personagem de Christina Ricci: “És um daqueles homens que não basta serem amados. Têm de ser reis.”
Neste filme de tons clássicos, que nem sempre se desprende das amarras da sua premissa, Robert Pattison quer reclamar o seu trono. Depois do morno ‘Água aos Elefantes’, ‘Bel Ami’ é um bom passo em frente em direcção a uma carreira que se quer mais adulta. Ser-se um pulha num meio de aparências acaba por dar uma grande ajuda...
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